Teatro Oficina
O Teatro Oficina tem uma história de 40 anos de atividade. Em diferentes épocas, os espetáculos produzidos por essa companhia de teatro, revolucionaram à sua maneira o panorama das artes cênicas no Brasil, desde as interpretações de Brecht, dos autores russos, no início dos anos 60s passando pela descoberta do Tropicalismo, em meados dessa década, movimento que originou uma reinterpretação da cultura brasileira com grande reflexo na música brasileira, pela criação coletiva e pelo teatro interativo com o público dos anos 70s, chamado "te-ato", pela diversificação de atividades culturais nos anos 80s e pelo reencontro com a criação e a representação cênica na década de 90, tendo em 1999 arrebatado inúmeros prêmios de autoria, espetáculo e representação.
O projeto de reforma do teatro, feito pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito, teve início em 1984, foi concluído em 1989 após interrupções e alterações e a obra concluída em 1994. Hoje o Teatro Oficina é patrimônio cultural reconhecido pelo estado e é dirigido pelo dramaturgo José Celso Martinez Correa, diretor da Companhia de Teatro Oficina.
Os conceitos geradores do projeto: construir uma rua, uma passagem, uma passarela de ligação entre a rua Jaceguay, seu viaduto e os espaços residuais de sua construção potencialmente utilizáveis e a grande área livre nos fundos do teatro; proporcionar um espaço totalmente transparente em que todos os ambientes compusessem um espaço cênico unificado - "todo o espaço é cênico"; flexibilidade de uso; adoção de recursos técnicos contemporâneos ao lado do despojamento, a idéia de "terreiro eletrônico" onde "bárbaros tecnizados" atuassem.
Um palco/passarela de 50m liga a porta de entrada à parede de fundo do teatro, com uma pista central de 1,50m de largura em terra, coberta por pranchas de madeira laminada. Longitudinalmente, galerias montadas com perfís tubulares de aço desmontáveis abrigam a platéia de 450 lugares em até 4 níveis superpostos. Às antigas paredes envoltórias, praticamente o único elemento construtivo mantido, foram justapostas estruturas metálicas, que deram estabilidade ao conjunto e sustentação à cobertura e aos novos ambientes como salas de preparação dos atores, camarins e sanitários, depósito de figurinos e sala de controles.
Os elementos da natureza foram contemplados com a construção de uma cobertura em abóbada deslizante para o ar, um jardim interno para a terra, uma cachoeira abastecida por 7 tubos aparentes que deságuam num espelho d'água e para o fogo um ponto de gás no centro geométrico do espaço.
Foi desenvolvido um sistema para a circulação do ar e conforto ambiental sem a utilização de ar-condicionado, com entradas de ar no nível do pavimento térreo com sistema de absorção de ruídos, e exaustão no nível da cobertura, por meio de exaustores eólicos.
Equipamentos de iluminação cênica e de cenotécnica complementam a diversidade de possibilidades cênicas, sendo que também foi projetado um sistema de captação e distribuição de imagens de vídeo para todo o teatro, concebido para privilegiar as ações, que podem se dar simultaneamente em diferentes locais do espaço cênico.
O contraponto entre as paredes envoltórias de grandes tijolos do início do século com as estruturas metálicas principais e as desmontáveis, a altura progressiva do pé direito, chegando a 13 metros sob o teto deslizante e a fachada para a rua Jaceguay, mantida cinza e com o aspecto de bunker de resistência, transmitem sensações de surpresa e diversidade espacial a um conjunto único e transparente.
Os atores e as atrizes, os técnicos, o público, bem como todo equipamento ou objeto de cena ou não, fazem parte do espetáculo, comungam ou se contrapõem e não há como esconder nenhum deles. Todos participam da cena. O ator, pela proximidade e por estar visível sob todos os pontos de vista, em oposição ao palco italiano, torna-se exposto em todas as suas dimensões, mas também tem a oportunidade de se expor, e como em um espelho ao público, a sua condição demasiadamente humana.